quarta-feira, 19 de junho de 2013


Tem gente lá no governo dizendo que ainda não entendeu o que aconteceu para motivar o povo ir às ruas.
Ocorre que aquela velha máxima de que o brasileiro tem memória curta vale para todos, inclusive para eles. Para essas pessoas e para quem quiser ler, vou tentar fazer aqui um pequeno flashback.
Lá pelos idos de 1997, no governo FHC foi aprovada a Emenda Constitucional que alterou o processo eleitoral no Brasil. Foi possibilitada a reeleição para o executivo e o mandato foi reduzido de 5 para 4 anos. 

Na época, Michel Temer era presidente da Câmara, apoiava o governo do PSDB. faziam ainda parte da mesa da Câmara: 
Heráclito Fortes, hoje do DEM; 
Severino Cavalcanti: aquele do Mensalinho, hoje no PP, tão vivo quanto o Sarney, e deixou seus pupilos na Câmara, tais como Feliciano e Bolsonaro que levantam bandeira contra os gays; 
Ubiratan Aguiar: Começou no Arena, passou pelo PSDB, foi deputado, ministro do TCU, e é vivo;
Nelson Trad, votou pela volta da CPMF, teve sua aposentadoria questionada, começou no PTB e terminou no PMDB, já não está mais entre nós;
Efraim Morais: PDS --> PFL --> DEM, campeão em nepotismo no Senado, tem um herdeiro na Câmara, vive entre nós, mas está apenas nos bastidores do poder.
Já a mesa do Senado era composta por: ACM (que dispensa qualquer comentário), Geraldo Melo (está fora da política direta), Ronaldo Cunha Lima (tentou matar seu antecessor no governo da Paraíba, já morreu), Carlos Patrocínio (PMDB, também atua nos bastidores), Fláviano Melo (PMDB, atua no Acre, nos bastidores) e Lucídio Portella (começou na UDN e terminou no PP, está com mais de 90 anos).

Lembro-me muito bem que, na ocasião um professor meu (eu estava ingressando no ensino médio), alertou para os riscos que essa emenda poderia trazer, sem contar o custo que isso gerou aos cofres públicos com a criação de emendas e distribuição de cargos para desviar dinheiro e pagar a base aliada. Seriam eles:

a coincidência do ano eleitoral com eventos esportivos mundiais (eleições nacional e estadual coincidem sempre com a COPA e as municipais com as OLIMPÍADAS), o que tiraria o foco do povo brasileiro que adora ver uma bola rolando.

o perigo de os eleitos desperdiçarem força e energia durante o primeiro mandato para costurar e fortalecer as alianças políticas em desfavor do interesse público e para garantir a reeleição depois, investindo somente o mínimo necessário para não deixar a coisa cair tanto.

Na época tínhamos uma seleção brasileiro tetracampeã e um presidente intelectual. O Plano Real estava a pleno vapor, o salário mínimo era de R$120,00, o que era considerado muito dinheiro.

Aí vieram outros escândalos além da emenda da reeleição: SUDAM, SIVAM, PROER, Caixa Dois, proprinoduto das privatizações (Telebrás principalmente), socorro bilionário aos bancos... Sua cabeça chegou a ser pedida, mas sequer foi investigado.

Enquanto isso, o PT se fortalecia e o Lula tinha aulas para moderar o discurso e não perder a eleição. Ganhou!

O PMDB continuou na base aliada e os escândalos não pararam

Lula, ao contrário de FHC, não tem estudo, mas isso não o colocou do lado do povo.
Roberto Jefferson jogou merda no ventilador e a coisa ficou séria. Ministros José Dirceu, Benedita da Silva e Gushiken foram demitidos. 
Surgiu a venda de dossiês, o Lulinha com a Telemar, o uso dos cartões corporativos, campanha política fora de hora, e o mensalão.

Enquanto tudo isso acontecia, durante todo esse tempo, a educação, a saúde, os transportes públicos, enfim, todo o equipamento dos serviços custeados pelo povo foi sendo sucateado.

Os parlamentares perderam a noção de sua importância e deixaram de representar o povo quando perceberam que os conchavos políticos alimentam melhor a conta bancária. Por lá, nenhuma reforma importante foi realizada: nem a política, nem a eleitoral, nem a tributária. Estão pendentes: o Novo Código de Processo Civil e o Novo Código de Processo Penal. E, para tampar os olhos do povo, levam para dentro do Estado laico, questões religiosas e sexuais, plantando uma guerra conveniente para mascarar o que os bastidores não querem mostrar.

Fato esse que motivou o STF a suprir a ausência do legislativo, com a incrível e difícil missão de interpretar a lei à luz da Constituição Federal para garantir, que uma norma de interpretação, uma mutação constitucional trouxesse benefício à população.

Por isso creio que pedir o impeachment de um não é a melhor estratégia. O povo tem que impor sua opinião para os que estão aí, porque a questão é estrutural. Não é culpa de exclusiva de Dilma, de Renan Calheiros, de PT, PMDB, PSDB, que seja.

A culpa é da alienação que nos é imposta e que reflete nos parlamentares e governantes, já que eles se esquecem que também são povo quando recebem o diploma do cargo eletivo e são alienados pelas benesses do poder e pelo assenhoramento da coisa pública.
Já que deixam de andar de transporte coletivo (se é que usaram algum dia), deixam de ir ao supermercado, não colocam seus filhos na escola pública, não ficam mais na fila do SUS e ainda locupletam-se às custas dos nossos impostos.

O recado deve sim ser dado agora, mas deve ser consumado nas urnas. Já tivemos um impeachment no Brasil e nada resolveu. Até lá, devemos deixar bem claro, o que queremos nos seja proporcionado com o dinheiro que arrecadamos.

Ah, e SEM VIOLÊNCIA, SEM SAQUES, SEM VANDALISMO. Não vamos nos rebaixar ao nível do sistema que nos oprime. Vamos com INTELIGÊNCIA, PAZ, ATITUDE E FIRMEZA.

Será que agora dá para entender o porquê?

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