quarta-feira, 13 de abril de 2005

O pianista no centro comercial


Estou andando, distraído, por um centro comercial, acompanhado de uma amiga violinista. Úrsula, nascida na Hungria, é atualmente figura de destaque em duas filarmônicas internacionais. De repente, ela segura meu braço:


-Ouça!


Ouço. Escuto vozes, de adultos, gritos de criança, ruídos de televisores ligadas em lojas de eletrodomésticos, saltos de sapato batendo contra o chão de ladrilhos, e aquela famosa musica, onipresente em todos os centros comerciais do mundo.


- Então, não é maravilhoso?


Respondo que não escutei nada de maravilhoso ou  fora do normal.


- O piano! – ele diz,  me olhando com um ar de decepção. – O pianista é maravilhoso!


- Deve ser uma gravação.


- Não diga bobagem.


Ouvindo com mais atenção,  é  obvio que a música é ao vivo. Está tocando uma sonata de Chopin no momento, e agora que consigo me concentrar, as notas parecem esconder todo o barulho que nos cerca. Andamos pelos corredores cheios de gente, de lojas, de ofertas, de coisas que, segundo anunciam,  todo mundo tem - menos eu ou você. Chegamos na praça de alimentação: pessoas comendo, conversando, discutindo, lendo jornais, e uma destas atrações que todo centro comercial procura dar a seus clientes.


Neste caso, um piano e um pianista.


Toca mais duas sonatas de Chopin, e logo Shubert, Mozart. Deve ter em torno de 30 anos;  uma placa colocada ao lado do pequeno palco explica que é um  famoso músico da Georgia, uma das ex-republicas soviéticas. Deve ter procurado trabalho, as portas estavam fechadas, desesperou-se, resignou-se, e agora está ali.


Mas não tenho certeza se está mesmo ali: seus olhos fitam o mundo mágico onde estas músicas foram compostas, suas mãos dividem com todos o amor, a alma, o entusiasmo, o melhor de si mesmo, os seus anos de estudo, de concentração, de disciplina.


A única coisa que parece não ter entendido: ninguém, absolutamente ninguém foi ali para  ouvi-lo, mas para comprar, comer, distrair-se, olhar vitrines, encontrar amigos. Um casal para ao  nosso lado, conversando em voz alta, e logo segue adiante. O pianista não viu isso – ainda está conversando com os anjos de Mozart. Tampouco viu que existe uma platéia de duas pessoas, uma das quais, talentosa violinista, o escuta com lágrimas nos olhos.


Lembro-me de uma capela onde entrei certa vez por acaso e vi uma moça tocando para Deus; mas estava em uma capela, aquilo fazia sentido. Neste caso, ninguém está ouvindo, possivelmente nem mesmo Deus.


Mentira. Deus está ouvindo. Deus está na alma e nas mãos deste homem, porque ele está dando o melhor de si mesmo, independente de qualquer reconhecimento, ou do dinheiro que recebeu. Toca como se estivesse no Scala de Milão, ou na Opera de Paris. Toca porque esse é o seu destino, sua alegria, sua razão de viver.


Sou tomado de uma sensação de profunda reverência. Respeito por um homem que naquele momento está me relembrando uma lição importantíssima: você tem uma lenda pessoal para cumprir, e ponto final. Não importa se os outros apóiam, criticam, ignoram, toleram  – você está fazendo aquilo porque é o seu destino nesta terra, é a fonte de qualquer alegria.


O pianista termina outra peça de Mozart, e pela primeira vez nota a nossa presença. Nos cumprimenta com um educado e discreto aceno de cabeça, fazemos o mesmo. Mas logo volta ao seu paraíso, e é melhor deixa-lo ali, sem ser tocado por nada neste mundo, nem mesmo nossos tímidos aplausos. Está servindo de exemplo a todos nós. Quando acharmos que ninguém presta atenção ao que fazemos, pensemos neste pianista: ele estava conversando com Deus através do seu trabalho, e o resto não tinha a menor importância.


 


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terça-feira, 12 de abril de 2005

Sobre a vida


Escrevi esse texto no blog de um amigo, achei que ficou legal e resolvi colocar aqui...


"Eu diria que a vida é "vários" filmes (a concordância aqui ficou esquisita né?).
Quando a gente pensa que aquela história acabou, vem o diretor e manda uma continuação. Nossos sentimentos, emoções, frustrações; amores vividos, amores perdidos, amores platônicos, amores que poderiam ter sido e não foram, amores que foram e não poderiam ter sido.
Os sonhos e os pesadelos... O que seria dessas cenas reais sem a fantasia? Se não fossem eles não teríamos coragem de tentar fazer uma outra história, não teríamos coragem, de mudar a nossa realidade. E assim a vida continua, e o melhor disso tudo é que nunca saberemos em qual parte ela está. Às vezes penso que meu filme ainda nem passou da primeira cena, outras vezes acho que já estou na penúltima parte, mas nunca quero que chegue ao final."

Più o meno

Rating:★★★★★
Category:Music
Genre: International
Artist:Renato Russo - Equilíbrio Distante
Più o meno
(Mais ou menos)

Più vivi e meno sai
Mais vive e menos sabes
Più spendi e meno hai.
Mais gasta e menos tens.
Più o meno, sei qui.
Mais ou menos, estás aqui.
In lista anche tu...
Na lista também você...
Chissà se uscirà,
Quem sabe se saíra,
il tuo terno. Chissà!
a tua sorte. Quem sabe!
Più o meno umanità
Mais ou menos humanidade
Più o meno libertà.
Mais ou menos liberdade.
Chi vola, e chi no
Quem voa, e quem não
Chi vorrebbe...e non può
Quem queria...e não pode
Più o meno sinceri
Mais ou menos sinceros
Futuri robots
Futuros robôs
No! Mentirsi, no!
Não! Mentir-se, não!
Ferirsi, no!
Ferir-se, não!
Tradirsi, no!
Trair-se, não!
Se poi, scopri che, il male tuo, è dentro di te
Se podes, descobre que, o teu mal, está dentro de você
Se potessi chiamare amore,
Se pudesse chamar amor,
la rabbia, che ho dentro me
a raiva, que tenho dentro de mim
Potessi ricominciare, ricomincerei con te
Pudesse recomeçar, recomeçaria com você
Ricominciamo!
Recomeçamos!
Ricominciamo!
Recomeçamos!
Ho un'anima in più
Tenho uma alma a mais
Più vera, di più...
Mais verdadeira, de mais...
Se resti con me,
Se fica comigo,
tornerò ad essere un re!
tornarei de ser um rei!
Ricominciamo!
Recomeçamos!
No! Fermarsi, no!
Não! Parar, não!
Fuggire, no!
Fugir, não!
Perdersi, no!
Perder-se, não!
Se oscurassimo i sentimenti,
Se ocultássemos os sentimentos,
sarebbe notte, e poi...
seria noite, e depois...
Pianeti spenti
Planetas apagados
Stelle cadenti, noi!
Estrelas cadentes, nós!
Fa che non sia così!
Faça que não seja assim!

quinta-feira, 7 de abril de 2005

A tarefa mais difícil



Um dos rapazes que estudavam com Nasrudin quis saber:

- Qual é o maior de todos os homens: aquele que conquistou um império; aquele que teve todas as possibilidades de fazer isto, mas renunciou ao desejo ou aquele que impediu que outro o fizesse?

- Não tenho a menor idéia, respondeu o sábio sufi. Mas conheço uma tarefa muito mais difícil que as que acaba de citar.

- E qual é?

- Impedi-los de ficar analisando o que os outros fizeram e tentar ensiná-los a se preocupar com aquilo que vocês mesmos podem fazer.

Essa já esta no blog também, é muito bom!


"De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Portanto, devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro."

Fernando Pessoa.

Há pessoas...

O texto é de um autor desconhecido... Segue:


"Há pessoas que querem ser bonitas


para chamar atenção


Outras desejam a inteligência


para serem admiradas...

Mas há aquelas que procuram


cultivar a alma e os sentimentos

essas alcançam o carinho de todos,

porque além de belas e inteligentes

realmente tornam-se pessoas"