segunda-feira, 8 de abril de 2013

Precisa-se de moderação: a inadequação do pensamento radical.



Estamos vivendo uma verdadeira guerra santo-sexista tupiniquim. É importante refletir sobre o assunto, na tentativa de trazer um pensamento moderado. A tentativa é ser o mais imparcial e isento possível.
Vou partir de uma situação hipotética, porém real e cotidiana, principalmente em cidades grandes: imaginemos que um pregador entre num ônibus e comece a declamar e explicar a Bíblia em alto e bom som. Agora vamos fazer o seguinte exercício. Risquemos da situação hipotética as palavras “pregador” e “Bíblia” e troquemos pela profissão que exercemos ou nos formamos e por algo que seja mais característico nela, mantendo o contexto do ônibus. No meu caso eu vou colocar as palavras “analista de sistemas” e “linguagem C”, ou poderia também trocá-las por “advogado” e “Constituição”, assim como o “farmacêutico” está para a “bula”, ou o “médico” está para o “Código Internacional de Doenças”, ou o “contador” está para as “regras de ouro”, ou o “letrado” para a “gramática”.
Imaginem-se neste ônibus, como passageiros, numa viagem de 40 minutos, com a pessoa declamando suas convicções.
Esse exercício treina a empatia? Creio que sim, e essa é a questão importante. Pois é nos colocando no lugar dos outros que conseguimos moderar nossas convicções mais radicais e percebermos as inadequações do que propagam por aí.
Agora vamos trazer a reflexão para um prisma, digamos, sociológico e tentar fazer o “link”.
Vejo que o maior problema dos movimentos sociais são as alas radicais. Vamos imaginar que os cegos de uma grande cidade comecem a exigir do ente público obras de acessibilidade, fundamentados no direito primordial de locomoção. É uma questão justa? Sem sombra de dúvidas! Imaginemos que esse grupo se organize e consiga eleger seu representante. Esse representante então resolve apresentar um projeto de Lei que transforme a calçada da principal avenida da cidade em uma via exclusiva para cegos. E agora? Será que esse equipamento público terá sua melhor destinação?
Assim como existem nos movimentos negros e feministas alas radicais que defendem políticas que são substitutivas. No primeiro caso, uma hipótese seria a criação de escolas exclusivas para negros, ou no segundo, feministas radicais que defendam a ocupação e substituição de espaços e funções sejam ocupadas por homens. Não quero crer que nenhuma das possibilidades seja equânime, pois sabemos que a segregação, a formação de guetos não contribuiu em nada para a sociedade até hoje e tampouco creio que mulheres passem a preferir profissões como estivadora, pedreira, mineira, serralheira, soldadora, ou que homens prefiram ser manicuros, bordadeiros, secretários, costureiros... No entanto, aqueles de subvertem à lógica devem ser respeitados e ter o exercício de seus direitos garantido.
Agora juntemos essas ideias com a de segregação de funções. Pensemos na hipótese de uma grande empresa, que preveja em seu estatuto a criação de um conselho fiscal. Seria ético, moral, adequado, que o administrador financeiro fosse presidente do conselho? No âmbito do controle da administração pública, seria ético, adequado, que o ordenador de despesas fosse parte do conselho que exerce o controle social? Há uma evidente confusão de interesses nessas hipóteses.
Analisando sob o prisma da adequação, até para ser isento. Creio que ninguém leve a família em local público, ou aberto ao público (parques, shoppings, escolas, praças...) para ver cenas de preliminares de intimidades como se vê cotidianamente. Seja qualquer possibilidade de casal: hétero, homo, de três. É feio! É inadequado!
Tentando juntar todos esses elementos, não creio ser adequado/lógico, que um professor de matemática vá ao cabeleireiro para ensinar trigonometria assim como que um religioso pegue um ônibus para pregar, assim como um casal vá a local público extrapolar os limites das manifestações de carinho.
Será então, que é certo, num Estado laico, que um deputado vá ao congresso defender a sua fé. Que o deputado gay extrapole a exigência de igualdade e defenda privilégios? Ambos atuando em nome de coisas íntimas e subjetivas?
O ambiente para se praticar a fé é na Igreja/templo/terreiro/centro, cada um com a sua denominação. Assim como o ambiente para se praticar sexualidade é na cama.
É honesto, digno, relevante, válido e adequado defender no parlamento o direito à justiça, à igualdade, à liberdade de culto, à liberdade sexual, à liberdade de expressão. Mas fazer disso uma ferramenta para obtenção de privilégios, uma máquina de benefícios, um meio de postergar questões importantes e uma grande subtefúrgio para alienar o povo é no mínimo desonesto. Deveria ser tipificado como crime. Isso serve tanto para criminosos gays quanto para os criminosos religiosos.
A lição de tudo isso é a moderação, saber separar as coisas e coloca-las no seu devido lugar. O pecado, a condenação divina, o perdão divino se obtém na fé, praticada na Igreja e no íntimo de cada um. No parlamento, deve se defender direitos, o exercício pleno e igualitário dos direitos por todos, o interesse comum, nem que seja necessário criar ações afirmativas e políticas públicas, mesmo controvertidas, como cotas sociais, bolsas família, privilégios fiscais para contratar deficientes ou idosos...
Clodovil Hernandez, numa de suas manifestações fez isso muito bem, obviamente com alguns vícios que são típicos da experiência de vida que ele teve – algo que acontece com todo mundo – , e foi criticado, incriminado, rechaçado pelo movimento LGBT. Mas acho que, naquele momento, ele agiu muito mais como parlamentar do que Jean Willys e Marco Feliciano.  
Mas as pessoas mais inadequadas dessa realidade toda somos nós, eleitores, que ainda não aprendemos a votar com isenção. Essa é a lição que eu, como um cidadão que se sente cada vez mais inadequado, por crer ser consciente de seu lugar e de suas convicções, tiro dessa realidade toda. Já transgredi as normas da elegância, em outras manifestações para expor esse ponto de vista, quem quiser ler, com um português “mais claro” é só verificar a minha linha do tempo lá na rede social.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Reflexão sobre o voto nulo

Votar nulo, ao contrário do que dizem por aí, não é anular cidadania e nem transferir a responsabilidade para os outros. Esse pensamento é um reflexo ultrapassado decorrente do paternalismo, do assistencialismo, do coronelismo e todas as doenças da política tupiniquim.
Anular o voto é sim uma das possíveis manifestações da cidadania. É discordar de um sistema que favorece a corrupção em suas mais diversas facetas: loteamento de cargos para os infinitos aliados políticos, cabides de emprego, descontrole das despesas públicas... Até porque não temos instrumentos hábeis para retirar definitivamente da vida pública aqueles que profissionalizaram aquilo que deveria ser um encargo público e estão no exercício de cargo eletivo exclusivamente em benefício de interesses pessoais. Acho que o máximo de benefício que um eleito deveria ter seria a isenção de pagamento de alguns impostos.
Estamos presenciando uma crise nos sistemas político e eleitoral do Brasil que só tende a piorar. Reflexo disso é a notável dificuldade de se estabelecer uma governabilidade no mínimo aceitável, pois fizeram uma aliança gigantesca para as campanhas eleitorais e estão dividindo o bolo até agora, sendo que as campanhas eleitorais já começaram, mesmo que de maneira disfarçada.
Enfim, votar nulo é declarar-se contra essa realidade e provocar na sociedade e nos nossos representantes a reflexão de que a mudança, a reforma, a modernização do sistema eleitoral está cada vez mais imprescindível.