domingo, 14 de setembro de 2008

A segunda semana no Maranhão

Saímos de São Luis na segunda-feira bem cedo rumo a Chapadinha. Ainda não estava seguro quanto viajar com o nosso motorista. Gente! Acabei de me dar conta que estou em Brasília há mais de 8 anos... Credo! Falo sobre isso depois. Voltando à viagem: dizia que não estava seguro de viajar com nosso motorista. É complicado confiar num estranho dirigindo um carro com sua vida dentro. Chegamos em Chapadinha antes mesmo do almoço, nos apresentamos e fomos nos acomodar. Achamos um hotelzinho até bacana. Deu pra ficar um AM cada quarto com sua cama de casal e tinha um café da manhã farto. Chapadinha é uma cidadela que virou cidade de verdade em pouco tempo, as na verdade o povo ainda é muito pobre. Não moraria lá, mas não passamos aperto com relação à alimentação, hospedagem, comércio. Mas o calor começou a aumentar. Quanto mais próximo do Piauí, mais calor faz. Tivemos que aumentar um dia na cidade, pois a demanda de trabalho era maior que o que esperávamos. A recepção pela Prefeitura foi muito boa, apesar de não nos servirem de frutas e lanches durante o expediente como aconteceu em Santa Rita, mas pelo menos o povo era educado, a secretária e a auxiliar dela foram muito educadas e atenciosas. Aliás, o povo de Chapadinha é mais educado e não passamos aperto na cidade com relação aos serviços (alimentação, hospedagem). Os almoços e as jantas eram num lugar chamado Confraria, bonito, agradável, e barato. Lá tomamos um chopp de vinho chamado Autêntico que é uma delícia, depois coloco o rótulo e o site. Vou até procurar a bebida em Brasília porque vale a pena ter uns em casa. Saí de Chapadinha com a sensação de dever cumprido e trabalho bem realizado. De Chapadinha nos encaminhamos para Timbiras. Essa viagem foi “osso”! Pegamos estrada de chão por teimosia do motorista. Por um lado foi bom que a estrada e menos movimentada e a velocidade de transito é menor, mas é desgastante assim mesmo. Dormimos em Coroatá, pois o motorista achou melhor por ter mais opções de hotel. Escolhemos um hotel até bom se não fosse a localização. Ele fica situado no meio de vários botecos, e uma característica dessas cidades do interior é a poluição sonora. Num dos botecos, que ficava bem em frente a janela do nosso quarto tinha um carro com o som ligado tocando aquelas musicas que eu mais detesto de todas no mundo. Ficaram até 2h da manhã quando resolvi chamar a polícia, apesar de acreditar que não ia resolver nada. A polícia não só foi lá, como acabou com a farra. Achei pouco, quem sabe eles aprendem algumas regras básicas de convivência em sociedade, apuram o gosto musical e aprendem que não se deve beber quando for dirigir. Senti muito por eles (prazer aueheauheauh), mas eu precisava tentar dormir, pois já havia perdido o sono. O colega começou a roncar e eu vi a hora passar a noite toda. Cheguei em Timbiras alquebrado, e deixei todos conscientes que eu não voltaria mais para aquele hotel. Feito! Encontramos um lugar pra ficar em Timbiras e eu fui buscar as malas em Coroatá. O dormitório é de uma senhora chamada Jura, e fica nos fundos da casa dela. Timbiras é uma cidadela que não tem muita coisa além do calor e da falta de vontade do povo. A hospedagem é muito ruim: o quarto não era limpo todo dia, a TV não funcionava, móveis velhos, enfim, é um misto de “Dormitório da Dona Teresa” com “Pousada Tambaú”. Algo que eu acho engraçado é que o povo aqui se auto-entitula preguiçoso e não fazem nada para melhorar. Eu diria, pra não parecer preconceituoso, que o povo é desprovido de senso estético, de zelo e de atenção aos clientes. Impressionante como os serviços aqui são ruins e não dispõem de uma estrutura limpa e agradável aos olhos. A única exceção é o hotel do SESC. É possível perceber isso em todos os lugares, inclusive dentro da casa das pessoas. Acho que isso é o que eu diria sobre aquela idéia que eu deixei pendente no final do post anterior. Sei que estou me contradizendo, mas agora tenho uma idéia que está completa e formada. Não é o nosso modo de vida em BSB que é artificial, e sim uma conquista pelo trabalho, estudo, cultura, força de vontade e busca pelo que é mais eficiente, eficaz, econômico, prático e bonito, ou seja, a melhor relação custo/benefício. Aqui no Maranhão não se tem esses cuidados, porém a ganância é grande. O povo quer ganhar dinheiro fácil sem oferecer aos clientes a mínima condição de ficarem satisfeitos com os preços que pagam. Até mesmo a comida e a forma como é feita, os utensílios utilizados, não recebem os cuidados necessários para isso: estou falando de higiene mesmo, limpeza, apresentação, aparência, ausência de seres vivos andando pela comida... Enfim. Saí de Timbiras também com a sensação de trabalho cumprido e agora estou em Caxias, ultima cidade do roteiro, porém a demanda mais complexa. Espero não ter que adiar a volta pra casa, estou com saudade de todos e da minha cidade querida. Estou doido pra ir a um shopping! Não agüento mais esses lugares que a gente se estressa por não ter com o que se estressar... Mais disso só depois de mais uma temporada em BSB. Depois escrevo sobre Caxias. A bateria do laptop está no fim e no quarto não tem tomada pra ligar o troço.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Maranhão, a primeira semana...


Resolvi fazer os relatos por semana. Eles não virão com todos aqueles detalhes e serão mais fáceis de serem feitos.

O vôo foi tranqüilo, apesar de algumas instabilidades: os gibis de sempre, as palavras cruzadas de sempre, as musicas de sempre, e o medo de sempre. Duas horas e vinte depois pousamos em São Luís. Ficamos no SESC Turismo, um hotel muito bom, o quarto era confortável, a cama era parecida com a minha, o chuveiro quente, piscina, sauna, academia, restaurante, café-da-manhã farto, bom atendimento, porém tudo o que não for diária é muito caro, além de ficar num bairro isolado de tudo, perto de uma praia freqüentada pela quirela da população de São Luis, com muitos assaltos, esgoto, sujeira, gente feia (depois descobri que é uma cidade de gente feia). A impressão que tive de São Luis é de uma cidade que pode ser assim formada: pegue Águas Claras, divide por 3, em volta coloque uma Pirenópolis, algumas Alexânias e muitas Águas Lindas de Goiás ao redor e um mar de água suja em volta tudo isso fervendo no caldeirão do inferno. Pronto, você já sabe como é São Luis. Nossos trabalhos não foram concentrados em São Luis, e sim em outras cidades. Nesta primeira semana visitamos Paço do Lumiar, Santa Rita e Olho d’Água das Cunhas. É legal ver outras realidades, mas em termos de trabalho, nem sempre isso vale.

Ah! E o Guaraná Jesus! Descobri porque tem esse nome: porque você bebe e diz “Jesus!!!”. Fazendo careta, lógico! O refrigerante é fabricado e vendido só aqui no Maranhão, a marca foi comprada pela Coca-Cola. É vendido como se fosse de guaraná, a cor dele é rosa e tem gosto de alguma coisa que não é guaraná. Não consegui definir se é sabor de cereja, chiclete, banana, cravo ou canela, mas guaraná tenho certeza que não é!

Em Paço do Lumiar presenciei algo inusitado: o centro administrativo da cidade fica no meio do mato e a parte “desenvolvida” da cidade fica a uns 5km de distância. É como se a Praça dos Três Poderes ficasse na Água Mineral. Não tivemos muito que fazer lá, pois os políticos daqui têm o péssimo hábito de não deixar documentos de uma gestão para a outra. Pelo menos é o que os atuais gestores argumentam, acham um absurdo, mas farão a mesmíssima coisa ao final dos seus mandatos.

Já em Santa Rita, presenciamos a mesma situação, porém com um agravante: a gestão atual também não soube realizar seus atos conforme a Lei. Santa Rita é uma cidade de inspiração, porque quando você expira, a cidade já acabou. Na volta aceitei o Guaraná Jesus pra não ser mal educado com a servidora da Prefeitura que foi tão simpática.

Na sexta-feira viajamos para Olho d’Água das Cunhas. Ali vi descaso com o povo e com o dinheiro público. Uma cidade quase miserável de pobre. Nem pousada tem, quanto mais hotel. Ficamos num dormitório numa case de uma velhinha, a Dona Tereza, em condições precárias. Ainda bem que foi só um dia. Era uma casa simples (pra não dizer pobre), com chão de cimento, pintada com cal tingido de verde na frente e nos fundos a parede externa era de barro mesmo e por dentro pintada de cal branco, que foi transformada em dormitório depois que a dona Tereza e sua família resolveram se mudar para o quarto da frente que fazia divisão com o meu por uma meia parede. O quarto fechava por fora com um elástico amarrado num prego, o banheiro não tinha luz, nem porta, nem lugar pra pendurar toalha, nem café-da-manhã. Não preciso dizer que o chuveiro era frio. O vaso sanitário fica em frente à porta e um espelho refletia todo o banheiro e ainda dividi o quarto com o colega. Ou seja, era inevitável ver alguns momentos íntimos do outro se não quisesse pedir licença. Fomos recebidos pela encarregada da secretária da secretária de educação que nos informou tudo, menos o que precisávamos, com a cara mais limpa do mundo e nos informou que a secretaria de educação não se encontrava. Mas pela cara de pau da moça e por ela não nos olhar de frente (era algo meio impossível, pois ela era vesga, mas ela dobrava o pescoço para cima para não nos ver), tinha certeza que a secretária de educação estava escondida. Depois de uma noite mal dormida na Dona Tereza, fomos para a Prefeitura nos encontrar com a secretária de educação no horário combinado para pegarmos os documentos e seguirmos viagem. Ledo engano! A cretina chegou atrasada dizendo que estava trabalhando na campanha da Lalinha (a atual Prefeita que está “LALANDO” dinheiro público para sua campanha). Fiquei com ódio de me sentir trouxa naquele lugar! Depois ainda nos oferecem um bolo mole com Guaraná Jesus pra passar o tempo. Quase enfiei o bolo goela abaixo da funcionária e quase joguei aquela coisa cor de rosa na cara dela. Que ódio! Saímos de lá já tarde e chegamos em São Luis no começo da noite.

Voltamos para São Luis, só que desta vez para outro hotel, a Pousada Tambaú que já adianto que não recomendo a ninguém se hospedar lá, pois apesar de ficar em frente a uma das melhores praias, o atendimento é ruim, o café-da-manhã é péssimo, os donos são mal educados, os condicionadores de ar não funcionam bem, nem as TVs.

No domingo fomos ver a ida para Alcântara, uma viagem de braço pelo mar para o continente que dura uma hora e meia, mas não tinha mais barco indo e corríamos o risco de não voltar de lá no domingo. Preferimos ficar em São Luis e andar pelo centro histórico. Achei muito bonito, mas parece uma cidade deserta. Tudo descuidado, abandonado, cheio de baratas. Estão descaracterizando as construções antigas: alguns mantêm a fachada e fazem algo moderno dentro, outros deixam a fachada e fazem estacionamento. Na Rua Grande tem varias lojas como Americanas, Riachuelo, C&A, Marisa que funcionam em fachadas de casarões antigos. É de dar dó! Outros viraram museus, mas o geverno não cuida. Os azulejos estão caindo e são verdadeiras obras de arte. E os que não são nada estão se transformando em nada. Fiquei chateado...

No mais estou cansado! Só sei que não é fácil encarar essas estradas perigosas para “dar com os burros n’água”.

Pelo menos tomei um banho de mar que serviu para confirmar que eu não gosto mesmo de praia: aquela areia que gruda, a pele que fica como sal que pegou umidade, a água salgada e amarga e o povo feio, fora o risco de ser “beijado” por uma água-viva “apeixonada”.

Pra terminar, eu prefiro ficar com a seguinte idéia: o modo de vida dos pobres daqui e de outras viagens que já fiz sempre me deixam com uma impressão de que nosso modo de vida em Brasília é mesmo artificial. Vou desenvolver a idéia, e qualquer dia escrevo mais sobre isso.