sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Refém do transporte público no DF


Refém do transporte público no DF


 


No DF não existe usuário do transporte público e sim refém.


Quem tem o direito de fazer "greve de ônibus" no DF é o passageiro. A cada dia o transporte público do DF se deteriora mais.


Há uma semana tento chegar pontualmente às 8h da manhã no meu trabalho e não consigo.
Na segunda-feira (10/07/2006) embarquei no ônibus da linha 171 que sai por volta das 7h25min no terceiro ponto do Núcleo Bandeirante e ele quebrou no quarto ponto. Não contente em ir em pé, por conta dos passageiros que entrariam no próximo ônibus (o das 7h50min), voltei para a parada de origem e paguei outra passagem. Cheguei quase uma hora atrasado no trabalho.
Na terça-feira não passou o ônibus 171 das 7h25min, fiquei mais de meia hora esperando o das 7h50min, que também quebrou antes de sair do Núcleo Bandeirante, mas seguiu viagem sem pegar mais passageiros até a 516 sul, quando quebrou definitivamente e mais uma vez tive que pagar outra passagem pelo "conforto" de ir sentado em um "zebrinha" lento e barulhento.
Na quarta-feira, mais problemas: mais uma vez o ônibus 171 das 7h25min foi desviado de rota, e não passou no horário, forçando os passageiros a esperarem pelo próximo (o das 7h50min) 171 lotado.
Na quinta-feira, sem maiores problemas, o ônibus até foi vazio.
Na sexta-feira, o ônibus começou a ter problemas na W3 Sul e quebrou em frente ao Sara Kubitscheck, mais uma vez os passageiros tiveram trocar de ônibus e se atrasarem para o trabalho.
Se fosse só esta linha com problemas no DF, estaria fácil de resolver. Mas infelizmente estamos com um sistema de transporte falido e sucateado no qual as linhas de transportes públicos são concedidas a uma verdadeira máfia. É muito comum ver vários ônibus quebrados no meio do caminho e passageiros sendo deslocados para outro carro, ou até mesmo pagando outra passagem.
Me sinto um refém cada vez que subo em um ônibus velho, sujo, lotado com a pior relação custo-benefício do país, ou em uma lotação do sistema alternativo que se "entope" de pessoas (sim, são pessoas) e transformam os pontos de ônibus em feiras e as avenidas em autódromos, o no metrô que sai do nada e vai para lugar nenhum.
Sim, a palavra certa é refém, pois as linhas foram concedidas a um verdadeiro cartel criminoso, que está a cada dia extrapolando mais os limites dos direitos humanos, que não se pronuncia diante dos problemas, monopoliza as linhas e mente para a população "renovando" a frota com ônibus velhos. Sem contar que o refém de ônibus não tem direito ao lazer nos fins de semana, pois é impossível sair de casa aos sábados, domingos e feriados pagando apenas a passagem de ida e a passagem de volta.
É mesmo de se indignar que isso tudo esteja acontecendo na capital do país, que pode seguir o exemplo de outras capitais no Brasil, como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo ou até mesmo Goiânia, a outras cidades do interior como Uberlândia.
Por isso tudo sou a favor que a população se organize, e crie um dia para dizer NÃO ao modelo atual do transporte público no DF, sou a favor do boicote ao transporte público para exigirmos mais qualidade na prestação de serviço de uma concessão pública. Isso mesmo, as linhas do transporte público pertencem ao Governo, e logo, à população e não a esses criminosos que estão no controle das linhas, transformando os passageiros em produtos.
O número da linha de ônibus que uso, não poderia ser melhor para ilustrar toda esta indignação, pois corresponde, no Código Penal, a um artigo que define um crime muito comum no Brasil, o de estelionato, que diz: "Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento." Pena que sirva mesmo só para ilustrar, pois não cabe ser aplicado nesta situação, e dizer mesmo que o mais prejudicado é o passageiro, que paga passagem (que inclui impostos, custos de operação, salários e lucros das empresas) e impostos (IPTU, IPVA, e tantos e tantos outros) e não recebe um retorno com qualidade na prestação de um serviço essencial para o funcionamento sócio-econômico que qualquer cidade onde é impossível se locomover só a pé ou de bicicleta.


Adson Medeiros
Analista de Sistemas, morador do Núcleo Bandeirante, fica pelo menos 3 horas por dia à disposição do transporte público do DF e gasta pelo menos R$150,00 por mês em passagens.

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