sexta-feira, 20 de março de 2009

Bahia, primeira semana.

Primeira semana: Filadélfia e Mirangaba.

A viagem até Recife foi tranqüila, saímos de Brasília às 9h30min e chegamos no horário previsto, por volta das 12h. A GOL serviu duas torradas com requeijão (polenguinho) e as bebidas de sempre e o avião era dos novos. No aeroporto de Brasília comprei o livro “Soldados não choram” para ler durante o vôo, achei caro, mas comprei mesmo assim, e valeu à pena, porque o livro me fez esquecer que estava em um avião. Só não o li numa sentada só porque precisei ir ao banheiro e também porque não deu tempo de ler tudo até Recife.

Em Recife pousamos e ficamos perdidos, já que não tinha nenhum funcionário da GOL ou da Infraero para nos apontar a saída. Almoçamos (eu comi um Subway) e esperamos o vôo da conexão para Petrolina. O aeroporto de Recife tem um formato curioso: disseram-me que ele foi inspirado num barco, mas me parece mais outra coisa, quem tiver curiosidade de procurar no Google, entenderá o que estou querendo dizer mas, por dentro, é um aeroporto bonito, cheio de propagandas do Estado.

Saímos de Recife às 13h20min, com destino a Petrolina, pela GOL também, e na janela (sempre acontece de eu ficar na janela e nunca peço), só que num avião velho. A viagem normal tem previsão de 1h de vôo. Terminei de ler o livro em 15 minutos e o resto do tempo foi de ansiedade e agonia... Ele serviram um cookie e as bebidas de sempre. O vôo foi uma eternidade psicológica, e pra melhorar o avião ficou voando em círculos sobre Petrolina e tive a impressão de que houve algum defeito no trem de pouso, já que ele foi baixado duas vezes. Imaginei também que o piloto não conseguia diminuir a altura. Estava muito estranho... Mas graças a Deus o avião começou a perder altura (dentro da normalidade para um pouso) e aterrisamos. A aterrisagem serviu para eu ter certeza de que algo estava errado, já que o avião deu uma bambeada.

Ao descer do avião senti o calor insuportável de Petrolina/Juazeiro. Ainda bem que não ficamos muito tempo lá. Nosso motorista já estava nos esperando para nos levar para Filadélfia.

Petrolina-PE e Juazeiro-BA, se não se confundem, se confundiriam. O que divide as cidades (e os estados) é uma ponte sobre o Rio São Francisco.

A viagem até Filadélfia foi tranqüila, o motorista foi devagar e chegamos bem na cidade após 2h30min de estrada.

Já na entrada, percebe-se que é uma cidade pequena e sem estrutura. Ao chegar na hospedaria fiquei desesperado. Trata-se de um restaurante/lanchonete/mercadinho/lan-house, na beira da estrada, em um bairro chamado Jacaré, ao lado de um posto de gasolina, onde os caminhoneiros param para jantar e tomar banho. Disseram-nos que era o melhor lugar da cidade para dormir (nem tentei imaginar o pior).

O local era um salão, dividido em dois: no lado direito o restaurante, com um balcão de madeira em L, com uma pia e utensílios domésticos, antes da entrada para a parte de dentro do balcão tinha um armário, com mais utensílios jogados de qualquer jeito, encostado numa parede com uma abertura em arco para a cozinha, por onde os pratos eram entregues à funcionária que serve os clientes; a cozinha era um nojo, panelas sujas, tudo engordurado, parecia uma oficina mecânica de beira de estrada... Do lado direito tinha um balcão refrigerado onde estavam os refrigerantes e os doces fabricados pela proprietária do estabelecimento (tinha doces de goiaba em pasta, em pedaços, coalhada de três dias, gelatina, de jaca...), não ousei experimentar, logo saberão porque. Atrás do balcão tinham prateleiras com as mercadorias da mini-mercearia, depois uma mesa de escritório com um computador e uma multifuncional e atrás uma entrada para a lan house, com cabines que pareciam as de loja de vídeo erótico do CONIC. Na parte de trás do salão, entre os dormitórios e o restaurante e atrás e à esquerda da cozinha, ficavam quatro cabines: dois sanitários e dois chuveiros frios, e um lavatório externo que era onde todo mundo tomava banho (hóspedes e quem mais quisesse usar) e só era limpo pela manhã. Então imagine a nojeira que era aquilo a noite quando chegávamos do trabalho para usar o chuveiro. Os sanitários eu nem ousei passar perto para não pegar uma micose. Fazia meus serviços na secretaria de educação mesmo. Na parte do dormitório onde ficamos também tinha um banheiro, mas o vaso não funcionava e o chuveiro era frio e fraco, mas dava pra usar o lavatório pra escovar os dentes. O papel higiênico era da marca “Devolve meu cu!”. O quarto tinha três camas, era apertado e abafado, com um ventiladorzinho de chão para o calor insuportável. Entre os quatro dormitórios tinha uma saleta com uma TV e uma mesa redonda, cadeiras e uma cadeira de balanço de ferro enferrujado, mas tudo funcionava. Dedetizei (sempre levo meus inseticidas e repelentes) o local e fomos jantar. O cardápio tinha várias “opções”. Café completo: arroz, ovos, cuzcuz, carne, salada. Janta: era o café completo com feijão. A atendente era a preguiça em pessoa e uma das donas do local se sentou conosco para jantar e conversar. Era uma figura atípica, falante demais, rápida, de frases curtas e com um sotaque particular, muito engraçada. O melhor foi ela reclamar do tédio da cidade e que não tem nada pra fazer lá e conseguiu emendar que trabalha com ensino fundamental. Fomos (tentar) dormir. O café da manhã era cuzcuz, ovos, pão, carne, arroz e salada, leite (em jarra de plástico: aaaarrrrrghhh!) e café. Comemos só o cuzcuz, o pão e os ovos. Levo sempre comigo meu chá. O motorista chegou para nos levar até a secretaria e lá começamos o trabalho. O pessoal foi receptivo, gostei da simplicidade do pessoal da secretaria. No almoço fomos para o local da hospedagem. O cardápio era o mesmo: carne, arroz, cuzcuz, feijão, salada... O “assador” da carne é o mesmo que faz o suco, estava todo suado, e servindo os fregueses. A dona do lugar tinha chegado do hospital com seu uniforme de enfermeira e estava lidando na cozinha e no atendimento... Por isso não ousei provar os doces. O mexido de chuchu com carne assada temperada e moída foi preparado por um senhor de aparência suja e sem luvas, que secava o suor com as mãos e pegava na carne para colocar no moedor, e andava arrastando os pés no chão, sempre sem camisa. Enfim, nota-se aquela falta se senso estético e de zelo, sobretudo higiene, que já havia comentado em outra ocasião. Não é nenhuma referencia ao povo baiano, pois já notei isso em muitos lugares que já visitei como o Maranhão e Pernambuco. Mas a preguiça (ou seria alienação?) é um mal brasileiro mesmo. Um lugar onde se recebem hóspedes deveria ser no mínimo limpo, sem excrementos de lagartixas e moscas por todos os lados. Deveria ser mais agradável aos olhos, mas é tudo feito de qualquer jeito, sem planejamento, com dormitórios sem janelas, abafados e mofados pela umidade.

No segundo dia resolvemos procurar outro local pra almoçar, também não foi muito agradável, mas foi um pouco melhor. No terceiro e último dia nos indicaram uma comida caseira que valeu a pena, pois o lugar era limpo, sem moscas e a comidinha bem feita. Pena que não nos indicaram este lugar, o restaurante do Sr. Lelão antes. Terminamos os trabalhos à tarde e partimos para Mirangaba.

Chegamos em Mirangaba entre 20h e 21h. A cidade fica mais alta, em terreno mais acidentado e clima mais ameno. A viagem durou quase 3h, mas foi tranqüila também. Achamos a hospedagem em frente ao Banco do Brasil e nosso local de trabalho, o que é muito bom, pois ficamos independentes de motorista e podemos ir para a pousada na pra usar o banheiro. As condições de pousada aqui poderiam ser melhores caso o prédio não estivesse em reforma. Trata-se de uma pensão de uma senhora, que mora na frente e aluga quartos nos fundos. Os quartos mais novos têm banheiro, os mais antigos estão em reforma para que tenham banheiro também. Chegamos aos nossos aposentos. Um dormitório onde estão guardadas as camas e colchões dos quartos que estão sendo reformados, mas pelo menos o banheiro é individual e com chuveiro quente, com TV e um ventilador barulhento. Ao chegarmos fomos avisados que a casa estava em reforma e que havia faltado água na cidade, e que, por isso, a caixa d’água que abastece os banheiros dos fundos estava vazia, teríamos que tomar banho em um banheiro da frente até que a água voltasse. Resolvi esperar a água voltar e tomei banho só no outro dia. Mas um dos os colegas tomou banho no local onde foi indicado, o outro usou o banheiro da filha da dona do estabelecimento, com autorização. Dedetizei o quarto e fomos jantar. A comida estava boa e logo fomos dormir. O motorista, sob nossa orientação, passou a noite em Mirangaba e seguiu viagem cedo de volta a Filadélfia, pois achamos perigoso ele voltar à noite e sozinho. No outro dia, cedo, descobri que o local onde ele tomou banho é onde ficam os papagaios da dona do local, com uma bica que sai água da parede e a céu aberto. Ainda bem que não usei essa bica. Estava tudo bem com o dormitório até que nesta noite (de 19 para 20/03) apareceram os carrapatos...

Mirangaba parece cenário de novela de época. Tem uma praça em frente o Banco do Brasil, com uns bares. Tem muitos imóveis em obras aqui e os prédios públicos em geral têm uma estrutura muito boa para o porte da cidade. Não posso dizer o mesmo que disse sobre o senso estético que falta em Filadélfia, pois notei essa preocupação aqui. Não sei se é a proximidade de uma cidade grande (Jacobina) que torna as coisas mais fáceis. Notei também que eles gostam de pintar as fachadas dos imóveis com cores fortes, tipo laranja, verde, lilás, vermelho e turquesa. Acabei de conhecer o Umbu, uma fruta da região, até então só tomei do suco. É uma fruta de sabor doce e azedo, com casca dura, polpa verde (que lembra kiwi) e um caroço inteiriço (monocotiledônea, kkkk!), lembra sabor artificial de limão. É uma fruta gostosa. Nossa estada aqui está prevista para terminar na terça feira, mas acho que iremos embora antes. Não estamos tendo problemas com alimentação (ainda) e antes da ida para Queimadas devo escrever mais um pouco.

 

Em tempo: sinal de celular e internet aqui são artigos de luxo.

2 comentários:

Etio Meira disse...

Não sei como vc, FRESCO do jeito que é, consegue aguentar essas situações de hospedagens imundas, comidas quase apodrecendo durante o preparo e calor infernal!!!!
kkkkkkkkkk

Eu já teria pedido pra sair a muito tempo!
hauiahiuahuiahiauhaiuhauia

P.S.: Como vc sabe como são as cabines individuais de filmes eróticos do CONIC???

Itamar Matos disse...

Hey Adson,

É por isto que eu fico esperando você postar algo sobre suas viagens, eu adoraria viajar assim e conhecer este Brasilzão, se você for pra duas cidades da Bahia, Olindina e Crisópolis, você terá que escrever algo sobre as duas, pois eu sou de lá.

Eu adoraria ficar naquela primeira pousada, a história dos caminhoneiros me chamou a atenção. Hahhahahahaaha,

Amigo, você não conhecia UMBU, putz, tomei muita umbuzada quando criança. Umbuzada é o umbu não maduro, cozido e batido no liquidificador com leite. Eu acho uma delícia.

Vou ficar ansioso pelos próximos posts.

Abraços,
Itamar Matos (Ita)